Na semana passada eu entrevistei o Produtor e Diretor M.M. Izidoro, responsável pelo roteiro e produção do filme O Diabo Mora Aqui, excelente filme de terror nacional. Ele fala um pouco sobre seu trabalho no Set e como criou o roteiro do filme.
Recentemente O Caseiro estreou no cinema e mesmo com uma forte ação de marketing sua bilheteria ficou a desejar. Você acredita que ainda temos um preconceito com esse tipo de filme ou o problema do público ainda é o cinema nacional?
Acho que estamos em um ponto de transição bem legal. Até a minha geração, os filmes de terror nacionais tinham um estigma de serem trashs e ruins. O que eu não concordo 100%. Acredito que “O Caseiro” e outros filmes atuais de gênero, fazem parte de uma geração de filmes bem interessantes. Títulos e realizadores estão mostrando para o público que o cinema de gênero brasileiro pode ser comparado com o cinema de qualquer lugar do mundo e o público está recebendo a gente de braços abertos.
Fale mais um pouco sobre o seu projeto Urbania, de onde veio à ideia e o que devemos esperar em seus próximos trabalhos?
“O Diabo Mora Aqui” é a introdução do Urbania. Nesse projeto, eu misturei história do Brasil com lendas urbanas e personagens do nosso folclore para criar um mundo novo onde tudo isso está interligado de uma maneira que ninguém viu. Para o filme, juntei toda essa mistura com alguns temas importantes para mim, por exemplo, a escravidão, a cultura afro descendente, o papel da mulher e alguns outros. Daqui para frente, vamos explorar as personagens do filme em diversas mídias. No momento estou finalizando meu novo longa-metragem “Amaré”. É um filme musical que estou fazendo em parceria com a Apple e o iTunes e deve ser lançado no começo do ano que vem. Estamos trabalhando em uma peça de teatro também que pretendemos estrear no ano que vem. Então mesmo com a correria do “O Diabo Mora Aqui”, estamos a todo vapor tentando explorar novos mercados e maneiras de contar histórias.
O Diabo Mora Aqui, trabalha com um lado da nossa cultura que poucas pessoas gostam de falar, como foi o trabalho de pesquisa para a criação do filme? O Barão do Mel é inspirado em algum personagem histórico?
A pesquisa do projeto Urbania me tomou quase 10 anos. Tanto pelos elementos históricos, quanto pela falta de documentação sobre as lendas urbanas que inspiraram alguns personagens e histórias do filme. Toda vez que eu viajava pelo pais, eu acabava indo atrás de contadores de história, pesquisadores e sertanistas para saber as histórias daquela região. Depois disso, tivemos o trabalho de juntar tudo em uma história nova. Vários personagens do filme são reflexos de personagens reais ou mitológicos. O Bebê Diabo do ABC, o Negrinho do Pastoreio, a Loira do Banheiro, entre outros. Todos aparecem de alguma maneira no filme. O Barão do Mel é acima de tudo uma síntese do homem cego pelo poder e pela maldade. Temos exemplos desse homem durante toda a história na política, economia, etc. Achamos que essa figura seria um importante contraponto em uma história que fala de poder e os problemas que o poder absoluto pode trazer.
Dentro do roteiro original, dado as limitações de tempo e dinheiro, teve alguma coisa que ficou de fora?
Como sabíamos das nossas limitações, tivemos que cortar algumas coisas pontuais para conseguirmos fazer o filme. Todas as idéias que tivemos foram realizadas, algumas da maneira que tínhamos imaginado no começo, outras de maneira um pouco mais enxuta. Mas no final, contamos exatamente a história que queríamos ter contado.
Voltamos na quarta com Cinema.