Na quinta-feira passada tive o prazer de assistir A Bruxa. Primeiro filme do diretor Robert Eggers, que antes de escrever e dirigir esse filme já trabalhou com desenhos e produções de figurino.
Neste filme de baixo orçamento o diretor mostra que os filmes de terror ainda podem atrair um bom público para as salas e fugindo da mesmice dos Found Footages [Gênero como Atividade Paranormal que já se mostra saturado] e cria um terror psicológico.
Além de um roteiro muito bem acertado [Eggers o escreveu], o diretor tenta mostrar sua qualidade como cinegrafista, criando cenas tenebrosas, mas ao mesmo tempo maravilhosas. A baixa iluminação, uma trilha sonora muito bem escolhida e a presente sensação de que somos voyeurs do que está acontecendo garante a tensão do início ao fim.
A cada cena do filme, uma única referência me via a cabeça: as pinturas do espanhol Goya. A técnica de iluminação usada pelo espanhol e o ângulo de visão são bem parecidos com uma fase na qual o pintor voltou seus trabalhos para o paganismo. Existem séries de gravuras que retratam o mundo das bruxas ou quadros a óleo que retratam o Sabbat [conhecida como Pinturas Negras].
Goya é um pintor que merece um post…quem sabe no futuro.
E em algum período tenebroso do século XVII esta família acaba de ser expulsa de uma comunidade de colonizadores vindos da Inglaterra e o motivo deste banimento nunca ficamos sabendo. Porém o que tudo indica é que a família era mais fervorosa do que os demais.

Belíssima Fotografia
Como foram, eles expulsos devem começar a vida longe deste vilarejo. Neste novo lar o pai William [o tenebroso Ralph Ineson] , a mãe Katherine [Kate Dickie], a filha adolescente Thomasin [A jovem talentosa Anya Taylor-Joy], o filho pré-adolescente Caleb [Harvey Scrimshaw, que dá um show de atuação na cena da absolvição], o bebê Sam e um casal de gêmeos ficam perto de uma floresta. logo William adverte os filhos do perigo dos animais selvagens e os proíbe de brincar ali perto.
Essa que seria uma chance de recomeço se torna um pesadelo para a família, primeiro com o desaparecimento do bebe de Katherine, depois com a colheita que não dá certo e seus animais se tornando cada vez mais violentos [fique atento com o Bode Black Phillip]. Dado a tantas desgraças tudo indica que Thomasin é uma bruxa, e isso leva a família a beira da loucura.

Pobre Thomasin, culpada ou inocente?
Eggers cria uma trama excelente, ficamos todo tempo tentando imaginar se Thomasin realmente é uma bruxa [ o que nos faz lembrar um pouco da peça de Arthur Miller, As Bruxas de Salem, onde a todo momento o fanatismo religioso levam os personagens a consequências trágicas].
Mas não estamos no livro de Arthur Miller e sim em um terror.
Thomasin é colocada a todo instante entre culpada e inocente. Mas a maldade conspira ao seu favor.
A cada ação destrutiva vemos a fé [e a rigidez dela] enfraquecendo. O roteiro coloca muito mais o paganismo como uma força libertária do que tenebrosa. Thomasin sente a necessidade desta liberdade, ela sonha com seus tempos gloriosos de Inglaterra, onde não havia tantas provações e pobreza.

A fé aprisiona ou liberta?
É essa liberdade que o diretor nos mostra na cena final, uma das mais belas do cinema, e que infelizmente que não terá um justo reconhecimento. Por mais que o diretor tente fazer um filme de arte ele ainda será julgado como um filme de terror.
A não ser que o Black Philip intervenha.
Voltamos na quarta