Recentemente eu abri o espaço para novos colaboradores do site, Cauê escreve seu primeiro post para o nosso site:
Fala galera, tudo bom? Aqui quem fala é o Cauê Petito, do site Cinem(ação) e do blog PelaToca. Tenho 19 anos. Sou escritor, desenhista e amo cinema. É um prazer estar colaborando com o Maldito Vivant. Obrigado e boa leitura
Em O Lar das Crianças Peculiares, quando Jake, solitário garoto, descobre pistas para um mistério que cria realidades e eras paralelas, ele descobre também um refúgio secreto conhecido como O Lar da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares. Lá, além de conhecer as tais “crianças peculiares”, ele acaba descobrindo também sobre si mesmo. Conforme ele aprende sobre os moradores e suas estranhas habilidades, Jake percebe que”segurança” é uma ilusão, e o perigo reside na forma de poderosos e misteriosos inimigos. Jake deve desvendar quem é real, em quem pode confiar, e quem ele realmente é.
Na meia hora inicial, fica claro que O Lar das Crianças Peculiares é uma obra perfeita para ser adaptada por Tim Burton, contendo todas as excentricidades que funcionariam nas mãos do diretor. Pois bem, o filme tem todas as características que já sabemos que o diretor faz bem, o que engloba basicamente todo o lado visual da obra: direção de arte, figurino, fotografia e até os efeitos especiais, que na filmografia recente do cineasta não possuíam tanta consistência, mas aqui funcionam.
O que surpreende, no entanto, é que este é o melhor filme de Burton nos últimos anos (o que não quer dizer muito, realmente). Como não li o livro, não posso opinar em relação a fidelidade (de qualquer forma, uma obra sempre deve funcionar isoladamente, independente de seu material de origem), mas posso opinar sobre sua eficiência como filme. E o saldo é positivo.
Que a história é uma adaptação, fica evidente no primeiro e problemático ato, que explica muitos aspectos e regras daquele mundo fantástico verbalmente, de forma apressada e com as extensas narrações em off que entregam as origens literárias da obra. Muitos dos personagens não são plenamente desenvolvidos, sendo definidos mais pelas suas habilidades (“a garota do fogo”, “o garoto invisível”, etc), do que por suas personalidades em si. É evidente que Burton está mais interessado com as possibilidades visuais.
E funciona. O Tim Burton que vemos aqui lembra o Burton de suas melhores épocas, seja no design inteligente das casas de subúrbio pequenas e idênticas umas às outras, que vimos em vários trabalhos da filmografia do diretor, nas figuras em computação gráfica que se movem como em uma animação stop motion, e nos designs dos personagens, que funcionam naquele universo contado e se mescla com a atmosfera da história.
Como direção de atores nunca foi o forte de cineasta, poucos deles realmente brilham. Asa Butterfield, que já se provou um bom ator, surge um tanto quanto inexpressivo como Jake. Ella Purnell, que interpreta Emma (“interesse amoroso” de Jake, a garota é como um balão, e usa botas de ferro para não voar por aí), recebe um pouco mais de destaque devido a sua relação com o protagonista. Enquanto Terence Stamp faz um bom trabalho como o pequeno papel que é o avô de Jake, Samuel L. Jackson interpreta Samuel L. Jackson pela centésima vez. Responsável por trazer à vida o vilão Barron, Jackson pelo menos é auxiliado por um figurino e maquiagem que assustam e possuem uma identidade visual com o resto da obra de burton. O destaque fica mesmo para Eva Green como a Srta. Peregrine. Se a personagem não é tão desenvolvida, a atriz possui um presença de tela que a torna interessante logo de início.
No fim, O Lar das Crianças Peculiares não esconde suas origens literárias, com problemas de ritmo e exposições de roteiro, mas consegue, pelo menos, criar uma bela atmosfera, com sets e visuais perfeitos. As interações dos personagens, mesmo que rasas, conseguem deixar este filme um pouco mais peculiar (com o perdão do trocadilho), e assim, Burton realiza um trabalho acima da média em sua recente carreira.