Na quinta feira, aproveitei o feriado e fui ao cinema. Optei por assistir “Nise – O Coração da Loucura”, filme nacional que tem a direção de Roberto Berliner e Glória Pires como atriz principal.
Ela faz o papel da famosa Nise da Silveira, doutora em Psiquiatria que trabalhou no Hospital Engenho de Dentro e que revolucionou ao tratar seus pacientes [Que ela chamava de clientes] com o uso da arte [pintura e esculturas] e animais.

Gloria Pires convence muito bem como Nise
O filme começa com Nise chegando ao hospital depois de anos afastada, o filme não conta, mas ela ficou presa durante um ano e meio após ter sido denunciada por andar com livros Marxistas. Depois que foi solta ficou um tempo no anonimato. Neste seu retorno ela percebe como muita coisa mudou.
Agora a Lobotomia e o eletrochoque estão na moda e a maioria dos seus “colegas” usam esse método para curar seus pacientes.
Nise luta contra essa corrente, mas é alocada para o setor de terapia ocupacional [ala tida como abandonada pelo Hospital]. Lá ela inicia um trabalho com alguns pacientes, ela usa a arte e os animais como catalisador, para dar uma vida melhor para seus pacientes e tentando sempre dar dignidade a eles [Chamar pelo nome, poder escolher sua roupa, conversar, socializar].

Transformações
Esse trabalho atraiu o olhar de grandes homens do seu tempo, o famoso Crítico de Arte Mario Pedrosa, foi um dos incentivadores do seu projeto.
Mas mesmo como todo esse fundo histórico e uma carga dramática forte, o filme não cai no “Piegas”. O Diretor soube bem como “costurar” todos os personagens e o tempo do filme, sem que se pareça com um livro de autoajuda.
Mas esse tempo, se prova certo, ao mostrar a mudança de todos os personagens, seja dos Pacientes [Clientes] ou mesmo dos enfermeiros e ajudantes do projeto. Mostrando que as transformações internas são demoradas, mas acontecem quando estamos empenhados por uma causa.
Esconder a vida pessoal de Nise também é um grande acerto, vemos pouco da sua vida pessoal, ainda mais sobre seu tempo presa. Quando temos cenas na sua casa, ela está inteiramente ligada ao seu trabalho, quando ela ganha o livro do Jung no seu aniversário e quando recebe a carta do mesmo, a parabenizando pelo seu trabalho na clínica.
Mesmo com esse acerto, o diretor erra por vezes ao trabalhar com a “câmera viva” [por vezes ela balança de mais ou por vezes filma o nada] tentando emular o cinema de arte, mas precisamos disso para reconhecer a arte dentro de Nise?
Se puder veja Nise. Um filme que foge do que temos hoje no cinema nacional, uma pena que um filme tão bonito não seja campeão de bilheteria. Ainda estamos longe disso.